Cresce a insatisfação dos americanos com a Suprema Corte


Liberal ou conservadora?

As pesquisas de opinião mais recentes da Gallup e do Pew Research Center indicam que o nível de insatisfação dos eleitores americanos com a Suprema Corte vem subindo progressivamente.

Americanos estão cada vez menos satisfeitos com a Suprema Corte

Na opinião da maioria dos entrevistados, a corte se tornou muito conservadora, a qualidade do trabalho dos ministros caiu e a confiança no tribunal está em queda livre — obviamente porque as últimas decisões da corte desagradaram muita gente.

É preciso observar, desde logo, que os eleitores avaliam a Suprema Corte sob a óptica de suas próprias tendências partidárias, e não de visões jurídicas. Se o entrevistado for democrata, sua opinião será desfavorável. Se for republicano, ele pode declarar que a corte é muito liberal, apesar de a maioria dos ministros ser conservadora.

A opinião mais aproximada da realidade é a dos eleitores chamados de “independentes”. Porém, mesmo eles têm um viés partidário: parte tende a se alinhar com os democratas, parte com os republicanos.

No final das contas, pesquisas sobre a Suprema Corte refletem mais o nível de satisfação ou de insatisfação dos eleitores com as decisões mais recentes do tribunal. Essa seria a medida mais confiável do nível das águas: se está subindo ou baixando.

Por exemplo, a decisão que revogou o direito ao aborto causou um baque na satisfação da maioria da população; a que permitiu a candidatura do presidente Donald Trump em 2020, apesar de ele ser um insurrecto, outro; e a que lhe garantiu imunidade a processos criminais causou um rombo na credibilidade da corte.

Assim, a leitura de uma pesquisa de opinião sobre a Suprema Corte deve ser absorvida com moderação — diferentemente de uma pesquisa eleitoral. Mas, de qualquer forma, serve como um termômetro para medir o nível de satisfação ou insatisfação de setores da população.

Ideologia da corte

A pesquisa da Gallup indica que, em 2025, a maioria dos eleitores (43%) considera a Suprema Corte muito conservadora — um aumento considerável em relação a 1993. Para os eleitores entrevistados, a corte também era mais moderada e mais liberal antigamente.

Opinião sobre a posição ideológica da corte
1993 2025
Muito conservadora 24% 43%
Mais moderada 45% 36%
Muito liberal 22% 17%
Não têm ideia 9% 4%

Fonte: Gallup

A corte foi particularmente considerada mais liberal em 2015 e 2016 (com opinião de 37% dos entrevistados), quando legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o país e decidiu a favor do Affordable Care Act (lei mais conhecida como Obamacare — o seguro-saúde de quem não pode pagar um plano privado).

Nas últimas décadas (exceto em 2022 e 2025), uma maioria dos eleitores entrevistados considerou a corte “mais moderada”. No entanto, a diferença de opiniões sobre a ideologia do tribunal persiste entre blocos partidários: 75% dos democratas e 46% dos independentes acreditam que a corte é “muito conservadora”; 66% dos republicanos, que é “mais moderada”; e 28% dos republicanos, que é “muito liberal”.

As pesquisas do Pew Research Center também analisaram as opiniões dos eleitores sobre a ideologia prevalecente na Suprema Corte, destacando a ótica partidária dos entrevistados. No geral, 47% dos eleitores veem a corte como mais conservadora, 7% como mais liberal e 44% “no meio do caminho”.

A Suprema Corte tende a ser mais conservadora, liberal ou moderada?
Conservadora Liberal Moderada
Republicanos* 28% 9% 63%
Democratas* 69% 6% 25%
Média geral 47% 7% 44%
* A esses se somam eleitores independentes com tendências republicanas ou democratas

Fonte: Pew Research Center

Percepções dos eleitores 

Nos últimos 25 anos, o índice de aprovação do trabalho da Suprema Corte vem decrescendo constantemente, e o índice de desaprovação vem crescendo na mesma proporção. Desde 2021, essa taxa se mantém na faixa de 40%, exceto em julho deste ano, quando caiu para 39%, de acordo com a Gallup.

Entre os anos 2000 e 2010, o índice de aprovação da Suprema Corte se manteve, com exceção de 2005, um pouco acima de 50%. Isso se repetiu em 2018 e 2020, quando Donald Trump era presidente e a maioria conservadora da corte era de apenas 5 a 4 e o ex-ministro Anthony Kennedy (antes de se aposentar) votava, às vezes, com os liberais.

Opinião sobre a qualidade do trabalho da corte
em 2000 em 2020 em 2025
Índice de aprovação 62% 58% 42%
Índice de desaprovação 29% 38% 52%

Fonte: Gallup

Uma das principais razões para a queda da aprovação do trabalho da Suprema Corte, nos últimos 15 anos, é a de que os ministros conservadores e liberais passaram a votar mais consistentemente em conformidade com a ideologia do partido do presidente que os nomeou para o cargo.

De fato, a diferença atual de 65 pontos percentuais na aprovação da Suprema Corte entre republicanos (79%) e democratas (14%) é a maior já computada nos últimos anos. Em termos de comparação, essa diferença foi, em média, de apenas 22 pontos percentuais nos primeiros anos da década de 2000.

A análise da pesquisa, sob a ótica partidária dos eleitores, explica melhor a origem de suas opiniões sobre o trabalho da Suprema Corte: no final das contas, tudo depende das decisões que a maioria tomou nos casos de repercussão nacional.

Percentagem de aprovação sob a ótica partidária dos eleitores entrevistados
Aprovação em 2000 em 2020 em 2025
Republicanos 60% 60% 79%
Democratas 70% 49% 14%
Independentes 57% 57% 38%

Fonte: Gallup

As pesquisas do Pew Research Center também analisaram as opiniões dos eleitores sobre o desempenho da Suprema Corte nas últimas décadas, chegando a conclusões parecidas: os índices de aprovação vêm caindo progressivamente e isso depende da ótica partidária dos entrevistados:

Opinião sobre a qualidade do trabalho da corte
Opinião em 1987 em 2007 em 2025
Favorável 76% 57% 48%
Desfavorável 17% 28% 50%

Fonte: Pew Research Center

Justiça Federal 

Finalmente, a Gallup e o Pew Research Center pesquisaram o índice de confiança dos eleitores na Justiça Federal, comandada pela Suprema Corte. E a influência que a afiliação política deles exerce nas tendências de opinião.

Desde que a corte estabeleceu uma maioria conservadora de 6 a 3, ela passou a decidir consistentemente a favor das causas republicanas. Por isso, ganhou a confiança de 81% dos republicanos e de apenas 23% dos democratas. Em contraste, 74% dos democratas confiavam na corte em 1997 — e 77% dos republicanos também, segundo a Gallup.

Em média, o índice de confiança na Justiça Federal, que era de 66% em 1972, subiu para 80% em 1999 e caiu para 49% em 2025. Como sempre, isso depende das decisões tomadas ao longo dos anos.

As pesquisas da Gallup mostram a variação do índice de confiança na Justiça Federal, por partido, em três períodos diferentes:

Índice de confiança na Justiça Federal por partido político
Eleitores em 1997 em 2009 em 2025
Republicanos 72% 68% 81%
Democratas 74% 87% 23%
Independentes 67% 72% 44%

Fonte: Gallup

As pesquisas do Pew Research Center, por sua vez, mostram números bem parecidos, nos mesmos anos:

Índice de confiança na Justiça Federal por partido político
Eleitores em 1997 em 2009 em 2025
Republicanos* 80% 65% 71%
Democratas* 75% 54% 26%
* A esses se somam eleitores independentes com tendências republicanas ou democratas

Fonte: Pew Research Center

O Pew Research Center atribui essa diferença de opiniões favoráveis e desfavoráveis à Suprema Corte — e a toda a Justiça Federal — ao ponto extremo em que as diferenças partidárias chegaram no país, o que resultou em queda substancial do índice de confiança nas cortes federais.

Segundo esse instituto de pesquisa, hoje a confiança que o público deposita no tribunal é 22 pontos percentuais menor do que era em agosto de 2020, quando 70% dos eleitores tinham uma visão positiva da Suprema Corte.

Uma decisão fez uma grande diferença. Em 2021, pelo menos dois terços dos democratas tinham uma visão favorável da corte. Mas em 2022, quando ela revogou o precedente que garantia o direito ao aborto em todo o país, a confiança começou a despencar. Seguiram-se outras decisões que agravaram o quadro.



Fonte:Conjur

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